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Lamentos de uma estação no Expresso de quem sente

Jonathan Barbosa
Pudesse eu deter, nas minhas angústias, o acalento de Morfeu
Negado à Adão após o pecado qu’ele cometeu
E me acomete além do tempo seu; tenho cicatrizes que me visitam — e tiram do conforto — meu suspiro fanho.
Falta-me o alívio estranho de ter uma atrevida valentia — sempre me acanho.
O diário que me passa é eterno, veste terno, é suado e ordinário.
Todo cotidiano nega esmero novo a cada singela alvorada em cenário
Dentro do meu ser; solitude ou solidão, não defronto conhecer,
Porque nada mais temeroso é ter algo contíguo a si e, sem ventura, saber.
Fez quietude, o mundo; é disfarce do mundo ser um sossego profundo!
No âmago, e bem no âmago, a esperança é um estrume com cheiro imundo...
Hoje, o respirar sobrevive poucos segundos — os poros do meu corpo inspiram, em conjunto, pelos meus pulmões
Cheios de cinzas de todas as vidas de todas as regiões.
Vivo estranho — essa primavera — onde as pétalas mal nascem e bem caem;
Cada pétala minha nasce severa e num caule com espinhos demais!
Antes, nessa natureza, ouvia-se, nas costas das brisas, a serenidade das feras, no entanto, agora, se entreouve fumaça;
Estava, eu, transbordando formosuras, bem desenhadas e sem rasuras e, repentinamente, ruí em desgraça.
