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Minicontos da quarentena

Luís Fernando Amâncio
Quando criança, pensava que o avô já nascera velho. Não conseguia imaginá-lo jovem com todos aqueles cabelos brancos e rosto marcado por rugas. Porém, robusto, riso fácil, Vô Joca não era um idoso frágil. Não corria com os netos, é verdade, mas estava sempre em volta, instruindo as brincadeiras. Com ele, aqueles meninos de apartamento conheciam jogos ancestrais: piques e peões, bola de gude e correria na rua.
Queria se despedir do avô, mas não foi possível. Velório curto, caixão lacrado, não valia o risco. Gozador, Vô Joca veria graça em ser enterrado com as pompas de um lixo radioativo.
