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Sensações Covidianas

Miracy Real
Olhos nos olhos, em vídeos.
Braços e abraços virtuais.
Risos e sorrisos, em áudios.
Lágrimas solitárias de saudades.
Toque e aconchego imaginários.
Passos em espaços metrificados.
Viagens restritas entre paredes.
Sonhos acalentados, ora adiados.
Fatos e versões frustrados.
Vocês e eu distanciados.
Tantos desejos contidos...
Só o tempo... Só o tempo...
Dia e noite... Noite dia...
Minutos e horas a fio...
Decisivos? Haverá remédio?
Esperanças ou panaceias?
Fantasmagórico drama social.
E os fantasmas teimam me rondar...
Quarenta voltas no quintal,
afazeres rotineiros antes delegados
(lavar, passar, cozinhar, faxinar);
vontades sempre postergadas
(fotografar, pintar, bailar, costurar);
tantos outros verbos a me angustiar
(ajudar, doar, solidarizar, amar...);
insaciáveis prazerosos hábitos
sempre a me resgatarem o ânimo,
aragem a me refrescar o íntimo
(ler... ler... escrever... escrever...).
Palavras vêm e se vão - cruzadas:
ciência, técnica, política, tecnologia;
digladiam-se na escuridão - jogos:
liberdade, ética, direitos, democracia.
Nesse emaranhado de erros e acertos,
aflijo-me ora amedrontada, ora arfante,
sugestionada, aspiro/inspiro ar da vida,
testando os pulmões da humanidade,
ante essa guerra biológica e fria.
Quedo-me, enfim, vencida, impotente,
ante a inexorável passagem da pandemia.
